Cobertura da imprensa e interesse mundial pelo caso Titan mostra o quão precisamos evoluir social e humanamente
No último 20 de junho, o mundo comemorou o Dia do Refugiado. A data, segundo a ONU, serve para celebrar a força e a coragem das pessoas que foram forçadas a deixar seu país de origem em função de conflitos ou perseguições. Talvez fosse essa a motivação dos 750 ocupantes do pesqueiro Adriana, que partiu do Egito para a Europa no último dia 14, seis dias antes, e naufragou, tendo sido resgatados com vida, até o momento, 104 pessoas: 47 sírios, 43 egípcios, 12 paquistaneses e dois palestinos. Todos homens, mas a embarcação também tinha mulheres e crianças. Elas eram, inclusive, maioria.
Trata-se de uma das tragédias mais mortais da história no Mediterrâneo Central. Talvez algumas das pessoas que leem este texto tenham ouvido falar do acontecido mas, quantas, de verdade, sabem detalhes?
Isso porque as capas de todos os sites trouxeram, à exaustão, e continuam trazendo, quase em tempo real, minúcias do desaparecimento do submergível Titan, da OceanGate, que levava 5 bilionários à uma expedição bizarra, de turismo duvidoso, aos destroços do Titanic, e que teve como desfecho a implosão da embarcação. Cada passagem para esta expedição custou mais de R$ 1 milhão.
Com perdão ao trocadilho, mas “um oceano de diferenças” marca a cobertura da imprensa das duas tragédias e marca, também, sejamos honestos, o quão “fetichizamos” algumas coisas. Não se trata de uma disputa do que foi mais trágico, não seria isso nem se comparando o número de mortes envolvidas nos dois casos, uma vez que uma morte, por si só, nas mesmas condições, já seria uma tragédia. Trata-se do fato de o mundo ter jogado pra debaixo do tapete as realidades que também dizem respeito a todos nós.
Mas essa diferença abissal não está só na cobertura que a imprensa deu ao desaparecimento do submergível bilionário. Enquanto este reuniu esforços por mar e pelo ar, com países enviando robôs e sondas sonares de alta tecnologia na busca pelo Titan, o contrário se mostrou no Mediterrâneo no que se refere à ação das autoridades gregas na ajuda à embarcação, que foi avistada pela guarda costeira da Grécia antes do naufrágio. Eles afirmam que os passageiros recusaram ajuda, mas quem viu as fotos do barco pôde observar que os passageiros estavam com os braços levantados quando foram avistados, em sinal de pedido de socorro.
Diante disso, fica a pergunta: na hora do “vamos ver”, de fato, quais vidas importam? Precisamos de menos ativismo de internet, com todas as #s que vemos, e mais responsabilidade diante dos fatos, porque cenários assim mostram que ainda o mundo está muito aquém do minimamente aceitável quando se trata de direitos humanos, igualdade e equidade social.